quarta-feira, 1 de abril de 2009

POEMAS

MARINHA
Luciano Nunes


Por onde andam os meus sapatos de galante
Se aqui passaram, perguntei ao cabineiro
Agasalhei meus pés de sons extravagantes
No olhar distante desse tempo marinheiro
Atravessando oceanos de sandice
Os meus sapatos de marinha me perderam
Nas correntezas abissais.
Que onda triste Naufragou-me?
Ressuscitando perguntei ao manobreiro
- As ondas turvas do desejo - ele me disse.
Toma outra vez o teu lugar de passageiro.
Fiquei na proa ouvindo o mar e sua prece
Pequena lágrima de versos vanguardeiros.
Então pedi à solidão que me guiasse
Ela me disse - Vai, meu faroleiro!!


ACROBATAS
Luciano Nunes

A fome do navio é abstrata
Porque navega mares virtuais
Mas no sinal vermelho escravocrata
Navios são crianças marginais
Que agora fazem gestos de acrobatas
Repetem movimentos medievais
Pedem com olhar de vira-latas
A prata envaidecida dos boçais.
A solidão sem fome é diplomata
Com um pouco de vinho se refaz
Porém, sem pão a poesia mata
Intimorata invade catedrais
Com a ferocidade dos primatas
E a loucura exata dos chacais.


MARGINAL

(Ao poeta José Terra)

No último instante me vi sentimental
O azul do litoral pernambucano
Bebendo água de coco e lendo um marginal
Naquele sepulcral cotidiano
O livro do poeta cresceu no manguesal
Dos versos livres metropolitanos
E aquela solidão achei helicoidal
Um caranguejo tocando piano
Pensei por um segundo num nicho virtual
Do lodo lexical provinciano
Mas qual seria o dano d’um poema frugal?
E sei, não faço o tipo parnasiano.
São coisas da poesia universal
Dos hematófagos baudelerianos.


MANGUE PERDIDO
Luciano Nunes

Naquele shopping center, já faz tempo
Eu vi um caranguejo arrebatado
E Josué de Castro revoltado
Tentando apaziguar o sofrimento
Eu levo alguns chiés no pensamento
Para lembrar a origem do meu fado
Carrego um viaduto atravessado
Na goela indignada do silêncio
Não ver mais as piabas em lagoas
Ou no brilho acaju do amanhecer
Os pés de vento levando as canoas
Além das ondas turvas do saber
Eis meu verso triunfal, caro Pessoa
Esse mundo pós-moderno é de doer.


VERMELHO
Luciano Nunes

O arquétipo melhor é o dessa moça de vermelho
Na angra passeando assim vestida de espanhola
Uma dúzia de cantigas trina a sua castanhola
Enquanto soçobrada em seu luar feito de espelhos
Reflete a perdição da carolice de joelhos
Na procissão hodierna sempiterna cantarola
A moda d’outras asas esquecidas em gaiolas
Espalha-se o limo corrompido nos fedelhos.
Renasce o velho caos, os novos entes de caverna
Por ora obediente à pervertida alma hodierna
Com mantos pueris uniformizando o fronte
Despedaçando espelhos só matéria escura externa.
O arquétipo melhor para esse tempo de caserna
É a moça de vermelho degolando o horizonte.


BELL’S

Luciano Nunes

Numa esquina de um dezembro ocidental
Encontrei com Jesus Cristo camuflado
O seu corpo de molambos embrulhados
Ao mostrar-me a face, nada angelical
Atirou-me aquele olhar intestinal
De quem anda pelo mundo feito gado
Perguntou-me - O que é que fiz de errado?
Respondi - A sua fome é ilegal.
Fui embora me julgando abençoado
No meu carro prata pós-modernizado
E nem cri naquele pobre ser fecal.
Mais adiante noutra esquina do tablado
Meu possante capotou desgovernado
E era tarde pra entender o que é o Natal.


ÍNDIO CARA DE LUA
Luciano Nunes

Por toda vida levarei esse menino
Dentro dos mares tempestivos do olhar
E nos meus sonhos, ele assim me levará
Pelas paisagens imprecisas do destino
Escuto sempre o tanger do alegre sino
Que ele pôs na catedral pra me avisar
A vida é boa e tudo sempre passará:
A catedral, a oração e o peregrino
Por ser um sonho escolho ser feito de ruas
Feito de mangues, rios, aldeias medievais
Serei o índio caeté Cara de Lua
Olhando o brilho dos quasares celestiais
Com o menino a me dizer – fique na sua !
Pois muita coisa ainda lhe falta viver mais !



DURKHEIM
Luciano Nunes

Quando vi que a vida é plena de magia
Mas a fome pode atar nosso barato
Me alienei, sem assinar contrato
Fiz da estrada minha metodologia.
Na poeira encontrei filosofia
Transitoriamente examinando os fatos
Percebi que o social é um pé no saco
E o normal em si já é patologia.
No meu tempo não tem horas de concreto
E a subjetividade está em tudo
Quando, às vezes, sou-me turba, estou deserto
Fiz meu alvo me espelhando no absurdo.
A minha sociedade um livro aberto
Um insólito objeto de estudo.


ALDEBARÃ
Luciano Nunes

Deixe o rio atravessar esse deserto
Com essa língua silenciosa e sem manhã
Bem assim, nem tanto asa nem concreto
Deixe o rio sob o céu de Aldebarã
Sempre um horizonte aceso ali bem perto
Feito um cheiro de bebê na alma cã
Pra bem tarde e já depois, mas fique certo
Nascerá de novo o sol de Aldebarã
Anoitece, um barco abisma, submerso
Na memória saltitando feito rã
Deixe o rio anoitecer dentro do verso
Mas não leve o arrebol de Aldebarã.

terça-feira, 22 de julho de 2008

POEMAS



UM BEIJO
Luciano Nunes

Na calçada vi, deitado à elegância
Da socialite em foto de jornal
A ternura de um velho marginal
Que banhava-se de sol, sem petulância
Tinha ali por companhia a vigilância
De um rabugento cão, seu capital
Exibindo a cena, solidão e caos
Quando o velho, nobre em sua circunstância
Abraçou-se ao perro, amigo predileto
Sob a pressa de uns passantes fariseus
Fez um gesto vivo aos olhos de concreto
Dando beijos no seu cãozinho plebeu
E aquele instante vago e locupleto
Perguntou-se - Deus por quê? Por que, meu Deus?


O NARIZ EMPINADO
Luciano Nunes


Não empines tanto assim o teu nariz
Lança as vistas sobre o campo, olhai os lírios
É preciso a temperança dos delírios
Pra manter-se à corda bamba, o aprendiz
E se lá no fim do túnel, chão de giz
Encontrares, pouca luz, ou nenhum círio
Com os mesmos olhos nus dos teus martírios
Compreenderás, nada reconstituís
Não empines teu nariz além das horas
Deixa pois o teu silêncio atravessar
A caligem dos instantes, corrobora
Que assim é bem mais doce navegar
Percebendo que o tempo nunca ancora
Segue sempre o seu galope a beira-mar.




O SANGUE DOS VATES UNIVERSAIS.
Luciano Nunes

Quando La Luna abracei
Em Dante achei o meu rumo
Florbela escrevendo Fumo
Cecília e Ricardo Reis
Na rima me transportei
Pr’os sertões transcendentais
Com Pinto nos arraiais
Encontrei praias e mangues
Os meus versos tem o sangue
Dos vates universais.

Maiakoviski, tem Dylan
Tem Rilke e tem Zé Limeira
Nos dedos da minha caveira
O EU de Augusto dos Anjos
Whitman tocando banjo
Com Vinícius de Morais
Baudelaire e Octavio Paz
Gregório é o chefe da gang
Os meus versos tem o sangue
Dos vates universais

Machado e Guimarães Rosa
Tem Clarice e Gabriel
Van Gogh, Felini e Buñel
Poetas de cores e prosa
A arte, essa égua fogosa
nos campos filosofais
dos poetas marginais
que explodem seus big-bangs
Os meus versos tem o sangue
Dos vates universais

Tem Gil, Cartola e tem Chico
Zedantas e Humberto Teixeira
Cordéis vendidos na feira
Tem Londres e Caruaru
De Borges, Cabral e Xudu
Ao rap dos Racionais
A lista não acaba mais
Eu gosto quando ela se expande
Pois meus versos tem o sangue
Dos vates universais.



POEMAS

O RINOCERONTE
Luciano Nunes

Abra seus olhos na selva escura
Aprenda a tatear
Tocar a pele do rinoceronte azul
Que acertou seu peito por dentro
Toque a sua pele com unhas de borracha
Planejando todo carinho
O coração é uma selva escura
Queime o rinoceronte azul, sem metáforas.
Acerte um espinho nos seus olhos
Cegue o rinoceronte, esse nome feio
Aperte o animal, mas não o mate
Ainda, aplique um sonífero.
Deixe-o dormir por trezentos invernos
Troque sua pele
Para que ele seja outra vez
Um rinoceronte cinza latrina.



CRÂNIO FORMATADO
Luciano Nunes

No último verão de barricadas
O verso pôs a mão no esmeril
E fez jorrar quinhentas mil palavras
Do crânio formatado mercantil
Sangrando vendavais e trovoadas
Varrendo todo quebrantar servil
Se já sofreu de rima ajoelhada
Agora tem a quadra corpanzil
O canto vem então por testemunha
Verter sobre as falanges do poema
Em linhas de vivência a dor rascunha
Logrando se livrar da estratagema
Onde a sociedade afia as unhas
E os cornos ardilosos do sistema.


VAZIO MELÓDICO
Luciano Nunes


Ergo-me na pedra com olhos de vinagre
Deixo-me coração medula ouvindo Milton
Ventania absoluta devorando estrelas cegas
No sono vadio da montanha esquecida
Faço-me barco sobre trilhos antigos
Levo-me à primeira pedra de vinagre azul
Aceso e elétrico deserto sereno sincero
Para ver o sol quando o comboio chegar.
Dentro do túnel vazio, aragem melódica
Não perturbaremos o descanso da pedra
Não machucaremos as presas dos anjos azuis
Para depois do espaço depois do vão depois
Mais oco e sem vácuo e por dentro de tudo
Para não perdermos as estrelas azuis.


FRATERNAL
Luciano Nunes


É muito fácil ser mais um no poço
Quem é capaz de alentar o dia?
Com o peito farto de melancolia
Sem o desdém palerma desses moços
Pela vitória fraternal eu torço
Essa vontade, plena simetria
A esperança é minha liturgia
De ver a mãe sair do calabouço
Em outro plano atravessar o fosso
Com o peito farto de eurritmia
Sem tua pele tosca sobre os ossos
Sete mil palmos ter por regalia
Quem será terno nesse tempo grosso?
É muito pouco um copo de anarquia.


ÉTER DEVOLUTO
Luciano Nunes


Estou a construir um gral de gelo
Onde sovarei muros de éter devoluto
Refazendo trilhas d’outro mundo bruto
Tento alimentar o sol pelos cabelos
Se eu me dissolver ainda sem sabê-lo
Um fogaréu no gelo torvo do meu rosto
Estou edificando um pré-moderno posto
A quem enviarei um pós-moderno selo
Vou reproduzindo algum canto matuto
No éter devoluto de antigos vendavais
O ócio dos mortais e seus sonhos caducos
Jogarei no lixo estético dos anais
Se eu me diluir em lágrimas de luto
É um reles tributo às horas terminais.


BYTES EDITADOS
Luciano Nunes


Em versos de mil pés aventureiros
Digito a vã loucura computada
Num zoom que ao findar vai dar em nada
Eu canto meu infindo passageiro
Queimei sinistras burras de dinheiro
Pois sempre quis o browse da estrada
Minha pena grafa assim conectada
A network de manos vanguardeiros
Petrarca estou clonando, é divertido!!
Em versos de mil pés de giga bytes
À farsa desse tempo achar motivo
Sobreviver fiel ao meu desastre
Por tudo ver-me verme vector vivo
E meus bytes editados nalgum site.


VELHA RUA NOVA
Luciano Nunes


No tempo miserável em que eu morria
Ouvindo a Rua Nova se afogar
Não soube o meu instinto examinar
Aquela insana terminologia
Doía-me a dor que anestesia
A alma, e fez-me o verso estilhaçar
Na Rua Nova a nave eu quis comprar
Ali no templo da verborragia
Um estudante de filosofia
De rua, vil meditabundo popular
Pateticando a minha rebeldia
Eu só queria a nave e navegar
Menino vai correndo a drogaria
Que a veia do passado quer sangrar!!



ALEIVOSO
Luciano Nunes


A vizinha morreu de aleivosia
Me disseram – motivo de cobiça
Pensei assim: a vida é uma notícia
De jornal. Lê-se tanta porcaria.
A morte comercial me anestesia
Eu lavo os olhos crus na imundícia
Pedindo a Deus a cura que enfeitiça
A dor. Detono bombas de melancolia.
Porque não tenho mais nenhum cigarro
Nem sei beber o teu rio de gelo
E se a vizinha suicida me agarro
É por ter muito mais asas no cabelo
Para beijar a mesma boca onde escarro
E vê-la apodrecendo nos espelhos.



CATALISADOR
Luciano Nunes

Cada vez mais moderno e mais antigo
Perambulo pelos contos da infância
E esse peito respira a mesma ânsia
De Ulisses enfrentado os seus perigos
O que tento dizer e não consigo
Infinitivamente desconhece
Onde vivo, soletrando a mesma prece
Para ter na solidão sempre um abrigo
Eu jamais acreditei no teu sorriso
Vendedor de tinturas e cadernos
Ternos opulentos, cataliso
Nesses dias de bagulho, o vão inferno
Não ser ponta do tempo é o que preciso
Cada vez mais antigo e mais moderno.




SEMELHANÇA
Luciano Nunes


Soberano planeta madrugada
Tua rota de fuga é minha meta
Sou aquele poema em linha reta
Mais um pouco de asa e eu era nada
Tô cansado dos deuses da cocada
Quero apenas um verso e um violão
Pra viajar anos-luz desse mundão
Para ser outra vez nova criança
Encontrar no que resta a semelhança
Da grandeza do pai da criação.


COGNIÇÃO
Luciano Nunes

"Sobre a terra os mortos caminham
abaixo jazem os vivos, aprisionados..."
HOLDERLIN

Enquanto você lia Holderlin
Eu escutava Roberto Carlos.
Leio todos os poetas
Para saber um pouco mais
sobre a vida.
Eu também aprendi muito cedo
A amar os pássaros.


METAFÍSICO
Luciano Nunes

Ainda não sei
E nem sei
Se preciso saber
O que me contam
Sobre essa Era
As novas bíblias virtuais
Eu continuo na estrada
Com meus sapatos tortos
Minha guitarra e meu matulão
Meu sertão metafísico
E o diário de um detento.


TÚNEIS
Luciano Nunes

Não me quero num verso só meu
Tem muita coisa no mundo sem mim.
Vou tentar me esquecer quando atravessar a rua
Olhando às crianças e os velhos deuses.
Deus sabe que meu coração não me leva tanto
Para os palcos do eu sozinho nas estrelas.
Meu verso é a longa estrada
Toda paisagem, todos os bichos
Mares, plantas, gente.
Todos os túneis do tempo no olhar da alma.



TIA CLARA
Luciano Nunes


Recife do poeta João Cabral
Recife de Tia Clara
Que fazia um feijão preto delicioso
Com aquela charque de feira.

Barriga cheia
Quem chegasse fazia o prato
Era aquela festa de farinha e Fanta
Ô Tia Clara
Que falta faz a sua bondade.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

POEMAS


BISONHO
Luciano Nunes

Para a farra obsoleta desses dias

eu tenho duas pedras de neônio
Os versos furiosos dos antônios
que li em tempos cãs de rebeldia
No solo onde refiz minha alquimia
livrei-me de provérbios enfadonhos
À guisa dos espíritos bisonhos
que se explicam na própria acefalia
E assim o meu soneto anestesia

a veia turbulenta dos meus sonhos
Não pense em minha semiologia

tentando me encontrar no que componho
Nem mesmo sei qual profilaxia
estorva os versos sóbrios e tristonhos.


PASTICHE
Luciano Nunes

Se um soneto atravessou o tempo

E agora pousa leve em minha mão
As duas asas de exposição

São dois quartetos leves, em silêncio.
Não tenho tema são no pensamento

Sou um pastiche da contradição
A minha idéia não tem progressão

O meu soneto é todo pé de vento
Na elevação minh’alma é leviana

Petrarcamente metropolitana
Terço mais um terceto de asfalto.

Vai ser fechado com chave mundana
Enquanto bebo alguns goles de Brahma

E à Roma antiga faço um novo assalto.

MIL PÉS
Luciano Nunes


Em versos de mil pés aventureiros
Digito a vã loucura computada
Num zoom que ao findar vai dar em nada
Eu canto o meu infindo passageiro.

Queimei sinistras burras de dinheiro
Pois sempre quis o browse da estrada

Minha pena grafa assim conectada
A network, ó manos vanguardeiros.

Petrarca estou clonando, é divertido.
Em versos de mil pés de giga bytes

À farsa desse tempo achar motivo
Sobreviver fiel ao meu desastre

Por tudo ver-me verme vector vivo
Meus bytes editados nalgum site.


Poemas publicados na Antologia do Suplemento Pernambuco Julho 2008

PESCADOR
Luciano Nunes

Eu quero uma mesa farta dentro do poema
Uma mesa do tamanho do tempo
Onde excluídos possam matar a fome.

Eu quero afagos e beijos dentro do poema
Amigos e festa, além do mais.
Eu quero vida de pássaro.

Um antídoto para neutralizar o mal
E transformá-lo em liberdade.
Eu quero o poema punindo desonestos
Com versos de espada.


NA LOUSA
Luciano Nunes


Um pós-moderno e contumaz soneto
Escreverei na lousa tumular
Ouvindo a malta amiga lastimar
O adeus do debochado esqueleto.
Àqueles onze francos e seletos
Eu deixarei o amor que pude amar
No mais o tempo se encarregará
De lapidar afetos e desafetos.
Não levarei saudade apunhalada
Pois o meu coração eu configuro
Do que me alimentar noutra jornada
Espero só provar fruto maduro
Mas tudo isso após dar bengaladas
Nas pernas pós-modernas do futuro.


SUBVERSIVO
Luciano Nunes


Tenho sete mil faíscas de explosões
Em meu coração sereno e mentiroso
Minha rima tem um mote perigoso
Vivo assim domesticando escorpiões
Com uma dúzia de lavados palavrões
Vou riscando-me em meu cosmo ditoso
Não pretendo nenhum brio glorioso
Nesse tempo de obscenas perdições.
Entre mares, rios, pedras e desertos
O poeta quer apenas ser um livro
Com seu peito loroteiro bem aberto
No regaço de Cecília achar motivos
Ter eternos florilégios incompletos
Arrolando meus sonetos subversivos.


FOME EXCLUÍDA
Luciano Nunes


A minha solidão é pela fome excluída
Um verme rosicler a tudo come
No breve funeral de tantas vidas
A lua carcomida é minha fome
Encontre a vã caverna de Platão
Ou não verás o brilho negro, vermicida
É pela excluída solidão
Os versos da canção desiludida
Com ela refinei meu coração
Tornei-me asa outra vez partida
A fome excluída é transgressão
Para toda maldade permitida
Nimbando a pervertida escuridão
A solidão da fome é minha vida.