sexta-feira, 18 de julho de 2008

Poemas publicados na Antologia do Suplemento Pernambuco Julho 2008

PESCADOR
Luciano Nunes

Eu quero uma mesa farta dentro do poema
Uma mesa do tamanho do tempo
Onde excluídos possam matar a fome.

Eu quero afagos e beijos dentro do poema
Amigos e festa, além do mais.
Eu quero vida de pássaro.

Um antídoto para neutralizar o mal
E transformá-lo em liberdade.
Eu quero o poema punindo desonestos
Com versos de espada.


NA LOUSA
Luciano Nunes


Um pós-moderno e contumaz soneto
Escreverei na lousa tumular
Ouvindo a malta amiga lastimar
O adeus do debochado esqueleto.
Àqueles onze francos e seletos
Eu deixarei o amor que pude amar
No mais o tempo se encarregará
De lapidar afetos e desafetos.
Não levarei saudade apunhalada
Pois o meu coração eu configuro
Do que me alimentar noutra jornada
Espero só provar fruto maduro
Mas tudo isso após dar bengaladas
Nas pernas pós-modernas do futuro.


SUBVERSIVO
Luciano Nunes


Tenho sete mil faíscas de explosões
Em meu coração sereno e mentiroso
Minha rima tem um mote perigoso
Vivo assim domesticando escorpiões
Com uma dúzia de lavados palavrões
Vou riscando-me em meu cosmo ditoso
Não pretendo nenhum brio glorioso
Nesse tempo de obscenas perdições.
Entre mares, rios, pedras e desertos
O poeta quer apenas ser um livro
Com seu peito loroteiro bem aberto
No regaço de Cecília achar motivos
Ter eternos florilégios incompletos
Arrolando meus sonetos subversivos.


FOME EXCLUÍDA
Luciano Nunes


A minha solidão é pela fome excluída
Um verme rosicler a tudo come
No breve funeral de tantas vidas
A lua carcomida é minha fome
Encontre a vã caverna de Platão
Ou não verás o brilho negro, vermicida
É pela excluída solidão
Os versos da canção desiludida
Com ela refinei meu coração
Tornei-me asa outra vez partida
A fome excluída é transgressão
Para toda maldade permitida
Nimbando a pervertida escuridão
A solidão da fome é minha vida.

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