PESCADOR
Luciano Nunes
Eu quero uma mesa farta dentro do poema
Uma mesa do tamanho do tempo
Onde excluídos possam matar a fome.
Eu quero afagos e beijos dentro do poema
Amigos e festa, além do mais.
Eu quero vida de pássaro.
Um antídoto para neutralizar o mal
E transformá-lo em liberdade.
Eu quero o poema punindo desonestos
Com versos de espada.
NA LOUSA
Luciano Nunes
Um pós-moderno e contumaz soneto
Escreverei na lousa tumular
Ouvindo a malta amiga lastimar
O adeus do debochado esqueleto.
Àqueles onze francos e seletos
Eu deixarei o amor que pude amar
No mais o tempo se encarregará
De lapidar afetos e desafetos.
Não levarei saudade apunhalada
Pois o meu coração eu configuro
Do que me alimentar noutra jornada
Espero só provar fruto maduro
Mas tudo isso após dar bengaladas
Nas pernas pós-modernas do futuro.
SUBVERSIVO
Luciano Nunes
Tenho sete mil faíscas de explosões
Em meu coração sereno e mentiroso
Minha rima tem um mote perigoso
Vivo assim domesticando escorpiões
Com uma dúzia de lavados palavrões
Vou riscando-me em meu cosmo ditoso
Não pretendo nenhum brio glorioso
Nesse tempo de obscenas perdições.
Entre mares, rios, pedras e desertos
O poeta quer apenas ser um livro
Com seu peito loroteiro bem aberto
No regaço de Cecília achar motivos
Ter eternos florilégios incompletos
Arrolando meus sonetos subversivos.
FOME EXCLUÍDA
Luciano Nunes
A minha solidão é pela fome excluída
Um verme rosicler a tudo come
No breve funeral de tantas vidas
A lua carcomida é minha fome
Encontre a vã caverna de Platão
Ou não verás o brilho negro, vermicida
É pela excluída solidão
Os versos da canção desiludida
Com ela refinei meu coração
Tornei-me asa outra vez partida
A fome excluída é transgressão
Para toda maldade permitida
Nimbando a pervertida escuridão
A solidão da fome é minha vida.
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